
TRISTEZA
Se a tristeza batesse à minha porta eu, com um tímido sorriso, abriria e a deixaria entrar. Convidaria para sentar no sofá da sala, no melhor lugar, prepararia um cafezinho bem gostoso ou uma boa xícara de chá e conversaria longamente com ela.
Por certo ela contar-me-ia, com algum constrangimento a princípio, o motivo de sua visita. Pacientemente eu a escutaria, tentaria entendê-la e por fim talvez, ela choraria ao ir se despindo do pudor.
Posso supor que eu também choraria.
Então, quando nossas lágrimas estivessem mais esparsas eu a convidaria para um passeio pelo meu interior. Mostraria o jardim e as flores que, apesar dos tempos nublados, eu conseguira cultivar.
Depois, a levaria até o quarto de dormir e a deitaria numa cama confortável e acolhedora para que descansasse.
Pé ante pé sairia do quarto, não sem antes ter fechado as janelas e apagado todas as luzes.
Voltaria para a sala e, sozinha, eu velaria por ela a noite toda.
Ao amanhecer nos encontraríamos novamente e eu a veria transformada, iluminada.
Sem dizer mais nada, apenas me fazendo compreender no silêncio das almas, ela partiria deixando em seu lugar uma nostálgica e suave lembrança.
Sem demora, correria até a janela da sala e, olhando, a veria sumindo nas asas da compreensão.
… Sei que se não a acolhesse, depois dela ter assomado à minha porta, por sua natureza, ela se tornaria uma minha sombra a rastejar sob meus pés sempre que o sol tentasse iluminar minh’alma.
21/04/2021
